sábado, 17 de abril de 2010

Reserva

Há sempre alguém a observar. Na esquina, no frio da noite, à espera do caos.
Sem notar que os pés entrelaçam na terra aos poucos, de modo a formar raízes no chão. Ela derrete. Ao contrário da serpente que virou pedra esperando, você derrete. Não consegue fazer-se ouvir, mas ressoa ao vento cada noite que passa em cinza, nas ruas que anda, no trabalho, no quarto a dormir. Triste cinza por não ter sido fogo antes, por não ter brilho nos olhos ao ver chama, não houve chama, apenas cinza. Tens músicas, poesias, inspirações finas, clássicas. Mas cadê sua voz para cantá-las?
Não foi a semente que te fez árvore, nem o calor que te derreteu. O fogo não fez tuas noites cinzas. Teus ruídos não formam harmonias.
Abandone a esquina, a espera, e vá atrás do fogo.

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