segunda-feira, 4 de outubro de 2010

II

Não é brilhante?!
Quanta falta de imaginação, a minha!
Continuo repetindo histórias. Mudo o elenco, figurino, cenário, reações, mas a história é exatamente a mesma!
Antes, achava desagradável todo esse desconforto, essa repetição de mal gosto. Agora, me atento aos detalhes e me divirto com as piadas soltas em mesas de bar, dramas em questão de minutos, silêncios de glaciar a boca.
Não há com o quê lidar, não há um problema real, é tudo um teatro, mal interpretado, eu diria, se me coubesse a posição.
Pra não me perder em meio a toda pintura facial, trajes modernos, cenários altamente bem frequentados, sento-me na platéia e começo a aplaudir, como de respeito.
Cada linha de tecido se entrelaçando, corpos bem posicionados, falas bem decoradas, reações cada vez mais sinceras e os pagantes se deleitam.
De tanto que me deixo envolver, esqueço meu própio lugar nesse maravilhoso espetáculo: se estou cá a assistir, ou lá a interpretar.
Recrio tudo com tamanha perfeição, que não me reconheço nos quadros, o ato se repete virgem.
"É a primeira vez!" - eu digo. E assim, vou...
Ainda acredito na virtude de poder pregar peças em mim mesma, quando a cena não agrada é que decido o que mudar dessa vez.
Essa brincadeira é para os fortes, é feita para sonhadores. Eu recrio tudo o que a minha mente alcança, e eu vou longe, acredite.
Minhas sequências repetidas vão se diferenciando a cada quadro, a cada frame, troco a trilha sonora de acordo com o momento, não há dúvidas, é pura arte!
Novas luzes, músicas, afetos e desafetos por vir, lágrima real a cair, é um novo mundo a ser testado, vivido.

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