segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Rascunhos

Somos bilhetes caídos de um bolso de calça furada.
E tentando sobreviver ao vento, custamos entender que durante a queda, precisamos voar.
O que em nós foi deixado escrito por alguém, a chuva apaga, o passar do dia e da noite levam tudo pra longe das nossas linhas.
Sapatos gastos nos pisam, nos sujam as palavras, escritas um dia com tanto carinho.
E cada passo apressado, passos do correr da vida urbana nos tiram completamente de sintonia, nos rasgam em dois. Ficamos cada um com dizeres passados, datas erradas, letras irreconhecíveis.
Espalhados em direções diferentes, e a cada passo alheio, mais e mais distantes.
Somos apenas papéis. Apagando-se em dor, esquecimento, vida pós bilhete. Somos apenas dois pequenos esboços do que realmente deveríamos ser. Tentativas de uma mensagem de amor fracassado, que caem do bolso, se perdem na brisa gelada de inverno.
E, mesmo voando sem poder controlar direção, estamos incessantemente sendo rabiscados, entregues ou dobrados, sempre levando e trazendo palavras, promessas, amores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário